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Imersões Corporativas – O Passaporte Estratégico do Século XXI

  • Foto do escritor: Eliz Grigoletti
    Eliz Grigoletti
  • 9 de set.
  • 6 min de leitura

Do desenvolvimento de líderes à expansão de mercados, por que empresas e empreendedores não podem ignorar essa prática?


“Imersão corporativa” virou rótulo para quase tudo que envolve viagem de negócios. Mas as experiências que de fato transformam empresas são aquelas que conectam estratégia, cultura e redes de relacionamento em mercados reais — e entregam resultados mensuráveis depois que o avião pousa de volta. A evidência macro ajuda a entender por que esse formato ganhou tração nos últimos dois anos: 2023 fechou com 1,286 bilhão de chegadas internacionais e 2024 consolidou a recuperação, recolocando o turismo internacional nos patamares pré-pandemia, com Europa e Oriente Médio entre as regiões de melhor desempenho. Esse pano de fundo não é só lazer; ele também reflete a retomada dos fluxos corporativos, feiras e agendas de negócios que sustentam programas de imersão (OMT – Organização Mundial de Turismo).


Quando o foco é escolher destinos com melhor infraestrutura, conectividade e condições para relações empresariais, o Travel & Tourism Development Index 2024 do Fórum Econômico Mundial é um bom termômetro: Estados Unidos, Espanha, Japão, França, Austrália, Alemanha, Reino Unido, China, Itália e Suíça lideram o ranking global de condições habilitadoras (ambiente de negócios, abertura de mercado, infraestrutura de transporte, TIC, recursos culturais e não-lazer). Europa domina o top-30, com 19 países entre os mais bem colocados; não por acaso, concentra grande parte dos hubs que recebem delegações e programas executivos. Destaca-se ainda mercados em ascensão, como Indonésia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Albânia e Egito — que tiveram grande evolução nas ofertas e acessibilidade desde 2019, tornando-se apostas inteligentes para agendas de prospecção e teste de produtos (World Economic Forum).


Se a escolha recai sobre a Europa, há uma vantagem geográfica e regulatória que poucas regiões oferecem: o espaço Schengen permite circular entre 29 países sem controles nas fronteiras internas, o que viabiliza roteiros multicidades e multipaíses em poucos dias, algo crítico quando se contempla ecossistemas, reuniões, visitas a clientes e participação em eventos numa mesma semana. Some-se a isso uma malha aérea densa, com mais de 100 companhias aéreas regulares e uma rede de mais de 400 aeroportos, cobrindo cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados (European Comission)—  entende-se por que muitas agendas europeias incluem 2 a 4 países num único itinerário. Em 2024, o Índice de Conectividade Internacional da IATA colocou o Reino Unido, a Alemanha, a Espanha, a Itália e a França (5 países europeus) entre os 10 países mais conectados do mundo, reforçando a viabilidade logística de imersões pan-europeias. EUA, China, Emirados Árabes, Japão e Turquia também integraram o ranking que mensura o quão interconectados estão esses países com o restante do mundo, a partir de transporte aéreo.


Para além do transporte, há hoje a oportunidade de contar com empresas especializadas em fomentar esses encontros de negócios internacionais e intercontinentais multisegmentados ou nichados, categorizado como um setor ascendente - O mercado global de MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions)  -  que teve um crescimento médio de 10% entre 2024 e 2025 e tem a projeção de dobrar de tamanho até 2032. É um mercado ancorado na Europa, que concentrou 51,6% de participação no ano anterior — suportado por uma infraestrutura de negócios consolidada e forte demanda por reuniões presenciais em países como Alemanha, Reino Unido, Espanha e Itália. Para quem organiza imersões, esse dado explica a alta densidade de feiras, congressos e clusters setoriais num raio de poucas horas de trem ou voo (fortunebusinessinsights.com).


Por fim, Europa se mantém como o epicentro natural para agendas compactas e multitemáticas. A combinação de livre circulação da área Schengen, altíssima conectividade aérea e concentração de eventos MICE cria uma plataforma natural para imersões que integrem agentes reguladores, universidades, aceleradoras, câmaras e hubs de negócios em poucos dias — algo que reduz custo total de viagem, aumenta a densidade de reuniões e acelera validações de produtos.


No quesito entidades de apoio, as câmaras de comércio e agências públicas têm papel determinante para abrir portas e alinhar agendas. Em Portugal, a AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal e entidades parceiras (como AEP – Associação Empresarial de Portugal, CCIP – Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e CCIAP – Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa), DNA Cascais e a CG-CIE (Câmara Global de Comércio e Inovação Empresarial), auxiliam no fortalecimento de relações relevantes em missões empresariais, reuniões B2B, sessões plenárias, conexões com autoridades setoriais e agendas privadas de interesse mútuo. Fazem também parte de itinerários regulares de interessados agendas para Marrocos, Emirados Árabes, Egito e Espanha, conectando empresas e tomadores de decisão a projetos públicos, privados e sociais concretos. É definitivamente uma forma institucional de transformar visitas em pipeline de negócios.


Já no Brasil, a infraestrutura de promoção é ampla e acessível a PMEs. O calendário de feiras e missões multissetoriais é vasto, e as parcerias com governos e câmaras geram agendas organizadas com boa antecedência como CIIE (China), GITEX (EAU) e ações setoriais na América Latina. O MDIC e o Itamaraty (via Setores de Promoção Comercial nas embaixadas) apoiam missões prospectivas, rodadas de negócios e feiras, enquanto o Sebrae opera chamadas públicas que subsidiam a participação de pequenos negócios em viagens técnicas e grandes eventos setoriais, incluindo a Europa. As empresas privadas detêm programas mais específicos e personalizados, e em 2025 seguem firmes na oferta de imersões corporativas com serviços agregados, que vão de temáticas de capacitação, desenvolvimento de lideranças, eventos privados, participação em feiras de grande porte a lançamentos de livros. Esse viés reduz assimetrias de acesso, especialmente, para empresas que nunca contaram com uma atuação internacional e não possuem qualquer apoio local nos destinos de interesse, mas entendem a importância de explorar novos mercados.


Também vale observar para onde o mundo está indo. O TTDI 2024 mostra que, além dos mercados líderes tradicionais, Indonésia saltou do 36º para o 22º lugar, Arábia Saudita do 50º para o 41º e Emirados Árabes do 25º para o 18º — sinal de melhoria rápida das condições (infraestrutura, abertura de mercado, capacidade hoteleira e conectividade) e de janelas de oportunidades em destinos que querem atrair investimentos e parcerias. Para programas de imersão, esses países representam alto potencial de primeiro-movimento (parcerias, pilotos, distribuição), conforme dados do World Economic Forum.

Enfim, imersão corporativa não é turismo executivo; é estratégia aplicada que encurta aprendizado, formaliza relacionamentos e melhora a tomada de decisões no retorno. Para empresas brasileiras e portuguesas — especialmente PMEs —, é uma forma concreta de nivelar o jogo com grandes players, utilizando os próprios instrumentos públicos e associativos disponíveis nos dois países.


Do ponto de vista de planejamento e retorno, o que separa uma imersão de alto impacto de um roteiro fotográfico para as redes sociais é a curadoria estratégica realizada antes, durante e depois do programa. Antes, mapeiam-se oportunidades, riscos e atores-chave; durante, combinam-se visitas técnicas, encontros com reguladores, acesso a clusters e hubs de inovação; depois, converte-se o aprendizado em planos de ação, com metas de mercado e indicadores de relacionamento, além de um acompanhamento consultivo programado, em que dependendo do objetivo, o investimento na imersão é praticamente subsidiado pela consultoria pós.


E por que falar de imersões corporativas agora? Porque, se a sua empresa ou a sua carreira ainda não incorporaram essa prática, talvez seja a hora de repensar. Imersão não é modismo nem turismo executivo; é estratégia de sobrevivência e crescimento em um novo mercado sem fronteiras. Muitas vezes, não se trata de sair do país para assinar contratos — embora isso também possa acontecer —, mas de abrir a mente para novos horizontes, compreender estruturas e processos distintos, enriquecer a trajetória profissional e construir redes de relacionamentos que ampliam seu potencial de ver e antecipar o futuro.


Quem já participou de uma imersão sabe que uma única experiência pode mudar o rumo de um negócio; quem ainda não aderiu, deveria considerar incluir ao menos dois destinos no calendário anual. Grandes corporações que restringem essas oportunidades apenas a CEOs e conselhos executivos perdem a chance de preparar novos líderes. Já as PMEs e os empreendedores que enxergam nesse investimento um custo dispensável, correm o risco de serem ultrapassados por concorrentes que aprenderam mais rápido com o mundo. No fim, o recado é simples: em tempos de interdependência global, não se trata de perguntar se você pode fazer uma imersão corporativa — mas quando e com que intensidade está disposto a transformar sua visão em ação.



Eliz Grigoletti é jornalista, sócia global da IntegraTED, agência europeia de internacionalização e expansão global, e presidente do grupo AIS.


 
 
 

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