Inteligência Competitiva
- Eliz Grigoletti

- 8 de set.
- 4 min de leitura
Por que informação sem inteligência não gera resultados?
No cenário atual, onde a velocidade das mudanças desafia modelos de gestão, a qualidade da informação se tornou um ativo tão estratégico quanto capital ou tecnologia. Uma pesquisa global realizada em 2025, com 750 líderes empresariais, revelou que 58% dos gestores admitem que suas organizações ainda tomam grandes decisões baseadas em dados imprecisos ou inconsistentes (SoftServe/Wakefield Research, 2025). Esse dado ilustra a vulnerabilidade de muitas companhias diante da concorrência: não basta ter acesso a números, é preciso transformá-los em conhecimento confiável e em ação estratégica.
A realidade é que até 90% das informações corporativas permanecem não estruturadas ou subutilizadas — o chamado dark data, segundo levantamento publicado pela TechRadar em 2024 (TechRadar, 2024). Dispersos em diversos canais, setores e ferramentas como e-mails, relatórios internos e interações digitais, esses dados compõem uma mina de ouro para quem sabe analisá-los com consistência. Empresas que utilizam de forma consistente esse volume invisível de informações conseguem não apenas reagir, mas prever possibilidades e redesenhar estratégias antes que concorrentes ou a própria imprensa apontem tendências, minimizando riscos e aproveitando oportunidades em tempo real.
A pressão do mercado torna essa necessidade ainda mais evidente. Um relatório chamado State of Competitive Intelligence 2025, de uma plataforma de dados (Crayon.co), revelou que 68% das negociações já são disputadas de forma direta entre concorrentes e que 55% das empresas enfrentam mais pressão competitiva em 2025 do que em 2024. Ou seja, a inteligência competitiva deixou de ser diferencial e passou a ser condição mínima de sobrevivência.
Esse contexto explica por que a inteligência competitiva vem deixando de ser recurso restrito a multinacionais e se consolidando também em médias empresas, representando um diferencial competitivo ainda para as pequenas. Esse levantamento demonstra que 84% das grandes companhias já utilizam inteligência competitiva estruturada, mas que a adoção por PMEs ainda é incipiente. Isso abre espaço para ganhos expressivos de quem investir cedo nessa prática. Ao contrário do que se acredita, quanto menores a estrutura e os recursos disponíveis, maior a necessidade de planejar com precisão, reduzir riscos e mensurar resultados com clareza.
Outro ponto que gera equívocos e, muitas vezes, é negligenciado é que coletar dados ou gerar relatórios não é o suficiente. Com a democratização da inteligência artificial, muitas organizações acreditam que se tornaram autossuficientes no quesito análise de dados. Mas o verdadeiro valor da inteligência competitiva está em interpretar esses dados de forma adequada, extrair insights relevantes e, claro, agir estrategicamente. IA sem análise crítica não passa de volume. Inteligência competitiva exige contexto, leitura humana, interpretação, cruzamento de informações e alinhamento com os objetivos do negócio.
Além de orientar decisões estratégicas, a inteligência competitiva também impacta diretamente na comunicação. Estar presente em múltiplos canais não garante relevância nem engajamento. A diferença está em usar inteligência para compreender o que realmente interessa ao público, quais narrativas o conectam com a marca e quais conteúdos têm potencial de gerar audiência consolidada e diferencial de mercado. Conteúdo sem inteligência é ruído; conteúdo guiado por inteligência é relacionamento sustentável. Não basta publicar o que cada gestor quer comunicar sobre sua empresa, é preciso aprender, entender e ouvir o que o seu público realmente quer e precisa.
Exemplos recentes reforçam essa visão. Em setores como saúde e tecnologia, a análise preditiva vem permitindo identificar mudanças regulatórias ou lançamentos de concorrentes com até um ano de antecedência. Um relatório recente da McKinsey sobre o estado da inteligência artificial mostra que a pressão competitiva global já atinge um novo patamar: quase 80% das empresas no mundo utilizam IA em alguma função estratégica, o que torna ainda mais vulneráveis aquelas organizações — sobretudo PMEs — que não estruturarem programas consistentes de inteligência competitiva. O estudo reforça que mensurar resultados por meio de KPIs claros é o principal fator para capturar valor, permitindo que empresas menores demonstrem retorno rápido, atraiam parceiros e conquistem investidores.
O uso de IA em marketing e vendas é o mais difundido, mas o verdadeiro diferencial está em alinhar inteligência competitiva ao que o público realmente valoriza, produzindo conteúdo e engajamento relevantes em vez de volume de publicações. Essa falsa sensação de autossuficiência, que faz muitas empresas acreditarem que dispor de ferramentas de IA já basta, vai contra dados que confirmam que sem governança, liderança e estratégia não há impacto sustentável em seu uso. Para companhias em processo de internacionalização, estruturar processos e medir resultados sobre o uso de IA é o que garante competitividade eficiente em mercados globais, porque com margens menores a disputa é ainda mais intensa. São evidências de que dados, quando aliados à interpretação humana e à tecnologia analítica, podem mudar o rumo das empresas.
O futuro da competitividade está menos em reagir ao que acontece e mais em antecipar o que ainda virá. Em 2026, as empresas que ignorarem a inteligência competitiva estarão navegando às cegas em um oceano de riscos e oportunidades. Já aquelas que desde já souberem transformar informação em estratégia terão não apenas vantagem de mercado, mas também a credibilidade institucional necessária para se manter relevantes no longo prazo.
A questão que permanece é: a sua empresa está olhando além do óbvio?
Eliz Grigoletti é jornalista, sócia global da IntegraTED, agência europeia de internacionalização e expansão, e presidente da AIS Group.




Comentários