PMEs Sustentáveis
- Eliz Grigoletti

- 9 de set.
- 4 min de leitura
Talentos e Práticas que Abrem Caminhos para o Mercado Global
As transformações empresariais mais relevantes do nosso tempo não vêm apenas da tecnologia ou do capital, mas da forma como empresas integram pessoas, propósito e ambiente em suas estratégias. Sustentabilidade e desenvolvimento de talentos globais deixaram de ser iniciativas isoladas e se tornaram dimensões inseparáveis da competitividade. Para pequenas e médias empresas (PMEs), isso significa oportunidade de se posicionar de forma inovadora, com alto impacto e investimento acessível, em mercados cada vez mais regulados e exigentes.
A nova geração de consumidores e profissionais já dita esse movimento, cada vez mais conectando propósito e sustentabilidade às suas escolhas, tanto profissionais quanto de consumo. Uma pesquisa recente mostrou que 70% dos jovens consideram as credenciais ambientais de uma empresa como fator decisivo na hora de avaliar uma vaga de trabalho; 23% já investigaram as políticas ambientais de empregadores antes de aceitar uma proposta; e 15% da Geração Z e 13% dos Millennials chegaram a trocar de emprego por preocupações com impacto ambiental. Esse comportamento também se reflete no mercado consumidor: 65% da Geração Z e 63% dos Millennials afirmam estar dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis, e um em cada quatro já pesquisou práticas ambientais de marcas antes de realizar uma compra. (Deloitte, 2025, ESG Today, 2025). Isso significa que alinhar talento e sustentabilidade deixou de ser uma escolha reputacional para se tornar uma exigência de mercado.
Atrair e reter talentos também exige mentalidade global. Profissionais qualificados, especialmente das novas gerações, procuram empresas que expressem propósito real, estejam alinhadas a causas sociais e ambientais e ofereçam oportunidades de desenvolvimento internacional, ainda que em escala reduzida. Para as PMEs, criar ambientes inclusivos, estimular a aprendizagem intercultural e abrir espaço para participação em projetos de impacto é fundamental para competir com grandes corporações na atração desses talentos. Mais do que salário, eles buscam empresas capazes de oferecer experiência, conexão e valores — fatores decisivos para reduzir turnover e construir equipes preparadas para atuar em mercados globais.
Para PMEs, o caminho não precisa começar com altos investimentos em infraestrutura, mas com mudança de mentalidade e práticas ligadas a pessoas e cultura organizacional. Para pequenos empreendedores, diversidade, equidade e inclusão (DEI) vão muito além da ideia de responsabilidade social. Trata-se de uma escolha estratégica que impacta diretamente a saúde e a competitividade do negócio. Um levantamento recente revelou que 65% dos proprietários de pequenas empresas perceberam efeitos positivos ao adotar políticas inclusivas. Os benefícios relatados são claros: 70% notaram melhoria no clima organizacional, com ambientes mais inclusivos e positivos; 69% destacaram maior facilidade na atração e retenção de talentos; e 60% observaram aumento na satisfação e produtividade dos colaboradores. (WorldEcomag, 2025).
Esse cenário é especialmente relevante porque, enquanto grandes corporações podem oferecer pacotes robustos de benefícios, as PMEs encontram no DEI uma ferramenta poderosa de diferenciação: ao criar ambientes mais acolhedores e representativos, elas não apenas fidelizam seus times, mas constroem vínculos de engajamento que grandes estruturas, por vezes, não conseguem sustentar. Em outras palavras, a cultura inclusiva se torna um ativo competitivo, capaz de fortalecer a reputação da empresa e garantir equipes mais comprometidas, inovadoras e resilientes.
Ações sustentáveis simples e acessíveis podem ser implantadas sem grandes recursos e reposicionam a empresa no mercado com nova mentalidade:
· Mentoria reversa: quando jovens ou profissionais de perfis diversos orientam líderes sobre tendências sociais, digitais e culturais. Essa prática democratiza o conhecimento e reduz barreiras geracionais dentro da empresa.
· Programas internos de diversidade e inclusão (DEI): espaços de diálogo, treinamentos sobre viés inconsciente ou políticas de contratação inclusiva custam pouco e trazem grande impacto e ambiente interno mais saudável
· Políticas de trabalho flexível: adaptar horários ou adotar modelos híbridos permite incluir pessoas com deficiência, cuidadores e profissionais fora dos grandes centros urbanos, ampliando o alcance de talentos sem custo extra.
Essas ações culturais podem ser complementadas por iniciativas ambientais igualmente acessíveis. O SME Climate Hub, apoiado pela ONU, oferece ferramentas gratuitas para PMEs medirem e reduzirem suas emissões de carbono. O acesso inclui calculadoras simples, guias de boas práticas e até suporte para adesão ao movimento global Race to Zero (SME Climate Hub, 2025). Grandes corporações privadas também têm se mobilizado nesse campo, criando programas globais de fornecimento inclusivo e sustentável que conectam PMEs a suas cadeias de valor — como iniciativas internacionais voltadas a ampliar o acesso de empresas lideradas por mulheres a contratos corporativos (Sourcing2Equal).
Esse cenário se articula com a evolução da legislação europeia. Em 2025, a Comissão Europeia lançou o VSME – Voluntary Sustainability Reporting Standard for SMEs, um padrão simplificado de relatórios de sustentabilidade desenvolvido pelo EFRAG (European Financial Reporting Advisory Group). A ideia é clara: permitir que PMEs mostrem práticas básicas — consumo de energia, redução de resíduos, impacto social — em relatórios reconhecidos internacionalmente, facilitando parcerias com grandes corporações já obrigadas pela diretiva CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) a reportar toda a sua cadeia de valor (Comissão Europeia, 2025).
Outro marco é a CSDDD – Corporate Sustainability Due Diligence Directive, aprovada em 2024, que obriga médias e grandes empresas na Europa a monitorar impactos ambientais e de direitos humanos em toda a cadeia de fornecedores. Mesmo sem serem diretamente reguladas, PMEs que não comprovarem práticas sustentáveis correm o risco de serem excluídas dessas cadeias globais (European Parliament, 2024).
Ignorar essa agenda não significa apenas perder contratos, mas também limitar o crescimento internacional. Segundo estudo do MIT Sloan e Brookings, um investimento de US$ 1 milhão em compras de fornecedores diversos pode gerar até 10 empregos diretos e movimentar US$ 124 mil em impostos e circulação local, mostrando como práticas sustentáveis multiplicam valor econômico e social (Brookings, 2024).
O futuro das empresas será regenerativo: não apenas evitar danos, mas deixar legados positivos em comunidades, ecossistemas e carreiras. Para pequenas e médias empresas, o diferencial competitivo já não está em copiar grandes corporações, mas em mostrar como ações acessíveis — sejam culturais, sociais ou ambientais — podem reposicionar a marca, atrair talentos, acessar crédito, captar investimentos e conquistar mercados internacionais cada vez mais regulados pela credibilidade e autoridade geradas por práticas de sustentabilidade.
A questão que permanece é: sua empresa está preparada para transformar propósito em prática e conquistar seu espaço no mercado global cada dia mais sustentável?
Eliz Grigoletti é jornalista, sócia global da IntegraTED, agência europeia de internacionalização e expansão global, e presidente do grupo AIS.




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