Internacionalização e Diplomacia Corporativa
- Eliz Grigoletti

- 8 de set.
- 4 min de leitura
O novo paradigma que conecta PMEs e grandes corporações às relações globais
A internacionalização das empresas deixou de ser apenas uma longínqua e exclusiva estratégia de crescimento e tornou-se uma grande oportunidade para negócios num mundo globalmente interconectado e sujeito a constantes instabilidades geopolíticas e regulamentares. Nesse contexto, a diplomacia corporativa torna-se essencial — ela permite que empresas construam relações institucionais sólidas e ampliem sua capacidade de inserção internacional com base em credibilidade e articulação estratégica.
As possibilidades empresariais no mercado externo vão muito além de ampliar culturas, participar de eventos ou buscar representação comercial. Elas se tornaram eficientes operações estruturadas, que combinam inteligência de mercado, diálogo com stakeholders relevantes e identificação de oportunidades regulatórias e comerciais. Essa abordagem intensifica a competitividade, especialmente, em mercados emergentes, onde Parcerias Público-Privadas (PPPs) respondem por cerca de 20% dos investimentos em infraestrutura (Dados de 2023 do World Bank), canalizando recursos privados para projetos estratégicos e reforçando a competitividade das empresas.
As PPPs oferecem oportunidades que vão além de grandes obras de infraestrutura. Para que funcionem como diferencial competitivo, exigem visão estratégica, capacidade de articulação entre diferentes atores e leitura precisa dos interesses em jogo. Empresas que conseguem acessar redes institucionais sólidas, dialogar com governos e adaptar suas práticas a contextos multilaterais têm maior chance de consolidar presença em mercados externos. Esse é justamente o ponto onde diplomacia corporativa e inteligência empresarial se encontram, transformando conexões em resultados concretos.
E, ao contrário do que muitos imaginam, a internacionalização não é privilégio exclusivo das grandes corporações. Pequenas e médias empresas (PMEs) também estão no centro dessa transformação global. Na União Europeia, as PMEs dominam o tecido empresarial: representam 99% das companhias registradas e concentram em torno de dois terços dos empregos privados fora do setor financeiro. Apesar desse peso econômico, sua presença no comércio internacional ainda é limitada, respondendo por apenas 30% das exportações destinadas a países de fora do bloco, segundo relatório do Tribunal de Contas Europeu (2022), que sintetizou os principais obstáculos à internacionalização das PMEs, espinha dorsal da economia da UE.
No Brasil, o peso das micro e pequenas empresas no comércio exterior vem crescendo de forma constante. Em 2023, elas já representavam 40% do total de companhias exportadoras, movimentando US$ 2,8 bilhões. A evolução também se reflete no número de participantes: em uma década, o total de pequenos negócios exportadores mais que dobrou, saltando de cerca de 5 mil para 11,4 mil, com avanço proporcional também no valor exportado, que passou de US$ 1,2 bilhão para US$ 3,2 bilhões (MDIC, 2024). As micro e pequenas empresas brasileiras têm aumentado gradualmente sua presença no comércio exterior. Esse crescimento revela não apenas maior participação nas exportações, mas também a capacidade de expandir seus negócios de maneira organizada e consistente para mercados internacionais.
Em Portugal, as micro, pequenas e médias empresas mantêm total relevância, chegando a representar 99% das empresas no país: o número de PMEs atingiu cerca de 539 mil em 2023, um verdadeiro recorde histórico (Banco de Portugal / CEIC). Ao mesmo tempo, a participação das exportações na economia nacional segue elevada — em 2024, as exportações de bens e serviços representaram cerca de 47% do PIB - sinal de maior inserção internacional e diversificação da pauta exportadora, segundo INE (Instituto Nacional de Estatística) – embora os destinos permaneçam praticamente inalterados neste período - as oportunidades para quem quer negociar com empresas portuguesas, só aumenta.
Além disso, a internacionalização bilateral entre Brasil e Portugal tem se mostrado um vetor estratégico não apenas para o comércio de bens, mas fortemente indicado para a circulação de serviços e conhecimento. A afinidade cultural e linguística facilita a inserção de empresas de médio porte nos dois mercados, criando um ambiente de menor barreira regulatória e de maior confiança institucional. Esse movimento vem ampliando oportunidades em setores como tecnologia, turismo, educação, saúde e energias renováveis, permitindo que negócios com estruturas mais enxutas explorem novas frentes de receita. Para as empresas brasileiras, Portugal funciona como porta de entrada para a União Europeia; já para as portuguesas, o Brasil representa acesso direto a um dos maiores mercados consumidores do mundo. Essa complementaridade demonstra que a internacionalização bilateral vai muito além das grandes corporações, sendo uma via concreta de expansão e competitividade também para pequenas e médias empresas.
A ApexBrasil, agência brasileira de promoção de exportações e atração de investimentos, inclusive vem ampliando sua presença em Portugal (com recente sede aberta na capital portuguesa – Casa Brasil Bicentenário), além de outros mercados estratégicos, exemplificando o apoio institucional às PMEs para a promoção de oportunidades em mercados externos. Atualmente, a agência presta suporte a empresas responsáveis por aproximadamente um terço do valor exportado pelo Brasil, com destaque para as empresas de pequeno e médio porte, reforçando a importância de apoio adequado e planejado para a ampliação e abertura de negócios em mercado internacional.
O futuro da internacionalização exigirá que empresas de todos os portes desenvolvam credibilidade institucional, articulem parcerias público-privadas e se conectem a redes globais de negociação. Esse modelo não é exclusivo das multinacionais — é igualmente estratégico para PMEs que buscam novos mercados, inovação e crescimento sustentável. A presença internacional, diplomacia corporativa e visibilidade global, antes privilégio de poucos, tornaram-se possibilidades para muitos. Agora, a pergunta que permanece é: sua empresa já está pronta para esse novo paradigma?
Eliz Grigoletti é jornalista, sócia global da IntegraTED, agência europeia de internacionalização e expansão, e presidente da AIS Group.




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